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Um Prédio Antigo, Monteiro Lobato e a Falta d’Água

década de 20

Praça da Sé, na década de 1920. Ao fundo a Rua Benjamin Constant. À esquerda da rua o Edifício Gazeau e à direita o Palacete São Paulo.

Por Edison Loureiro

Praça da Sé, na década de 1920. Ao fundo a Rua Benjamin Constant. À esquerda da rua o Edifício Gazeau e à direita o Palacete São Paulo.

Este é um dos edifícios antigos de São Paulo que encontra-se muito bem conservado.
Foi construído em 1924 por Nestor Caiuby e pertencia a Hildebrando Cantinho Cintra.

Em 1946 o edifício passou para o patrimônio do Estado de São Paulo em virtude de uma espólio sem herdeiros e para aí transferiu a Secretaria da Educação. O edifício esteve abandonado por muito tempo até se tornar a sede da reitoria da UNESP. Atualmente é a sede da Fundação Editora da UNESP que aí instalou a Universidade do Livro, o braço educacional da Fundação que oferece cursos livres sobre toda a cadeia produtiva e comercial do livro.

É uma interessante coincidência, pois teve um hóspede famoso, Monteiro Lobato, o grande escritor que aí se instalou quando o prédio estava novo em folha. Praça da Sé n. 34, 1o andar, conforme a numeração antiga, era o endereço de sua empresa Companhia Graphico-Editora Monteiro Lobato que acabou tornado-se a maior editora do País. Podem procurar por uma placa no prédio que a informação está lá.

Apesar de a economia nacional estar passando por um período difícil e que atingia o setor livreiro, Monteiro Lobato, com todo seu idealismo e otimismo investia em sua empresa e tinha planos de crescimento. Não contava, porém com duas fatalidades que se revelaram desastrosas.

A primeira foi a eclosão em 5 de julho da Revolução de 1924 que bombardeou a cidade e paralisou a indústria de Monteiro Lobato, assim como outras empresas de São Paulo.

A outra adversidade foi causada pela Natureza. Uma das piores secas na história de São Paulo ocorreu em 1924 e 1925, provocando racionamento de água para o consumo particular e industrial e também racionamento de energia, com o esvaziamento dos reservatórios da Light. Talvez seja exagero, mas relatos da época dizem que em alguns pontos era possível atravessar o Tietê a pé. Houve redução até dos serviços dos bondes elétricos.

Acontece que Lobato havia montado seu novo parque industrial na Rua Brigadeiro Brás Machado, no Brás, com cinco mil metros quadrados de área coberta e maquinário moderno. Mas com o racionamento de energia não havia jeito de a empresa funcionar. Lobato investiu importando um enorme gerador diesel, porém este tampouco podia funcionar por falta d’água para o resfriamento.

O golpe final na Companhia Graphico-Editora Monteiro Lobato ocorreu após a mudança da política econômica do governo que desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos do Banco do Brasil. Em 24 de julho de 1925, Monteiro Lobato e o jurista Waldemar Ferreira requerem a autofalência da empresa.

Apesar de ter saído desta empreitada com dívidas, inclusive de dinheiro que nunca utilizou, Lobato não se abateu. Ele e seu sócio Octales Marcondes Ferreira possuíam em sociedade uma pequena casa de loteria na Rua Direita, e da venda desse negócio apuraram 100 contos de réis. Com este dinheiro compraram uma parte do espólio da massa falida da antiga editora, o estoque dos livros e os direitos autorais por 300 contos. Deram os cem contos que tinham e o restante seria pago em prestações com a venda do estoque.

E assim Lobato, com seu entusiasmo pelos livros continuaria com a Companhia Editora Nacional.

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  1. 30/04/2015 às 23:28

    Todos os prédios da foto ainda existem, o mais alto é da cia. seguradora A Equitativa, que teve sede também na 15 de novembro, do prédio que abrigou a Casa Paiva.
    O único que mantém a cúpula é o São Paulo.

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