Arquivo

Archive for the ‘Imprensa’ Category

Carta denúncia sobre a Bucha

Este documento foi achado no ano passado enquanto eu pesquisava sobre a BUCHA – a Sociedade Secreta das Arcadas. Trata-se de uma carta anônima enviada ao jornal O Estado de São Paulo, entre março e julho de 1932 – conclusão obtida pela referência ao então interventor do estado, Pedro de Toledo. Por motivos óbvios, o jornal não a publicou.

“A CAMORRA DE CIMA”

Toda evolução política do Brasil vem há muito tempo sendo controlada e impulsionada por uma Associação Secreta que hoje ameaça novamente sugjulgar o povo brasileiro, suicando todo o anseio de liberdade das massas.

Esta Associação, fundada nos moldes da já existente desde 1815, na Alemanha, aqui foi criada pelo exilado político Julius Frank, fugido da Alemanha e perseguido por suas idéias sociais Marxistas, amigo de Carlos Marx, é o seu túmulo venearado na Fraculdade de Dreito de São Paulo, pois foi nesse meio que ele escolheu para estabelecê-la, como uma associação de estudantes. É a cópia fiel da Associação Alemã. Até o nome foi conservado. Por ele vê-se perfeitamente a sua finalidade: BRUSCHENSCHAFT, que quer dizer CONFRARIA DE CAMARADAS. Camaradas foi sempre a designação usada pelos adeptos do comunismo. A sua estrutura é a mesma da Associação alemã: Conta três gáus: Catecumenos, Crentes e Apóstolos, dos quais são eleitos três para a sua suprema direção, que é vitalícia.

Os estudantes são selecionados nos seus dois primeiros anos de curso iniciado geralmente no terceiro ano. É uma sociedade rigorosamente secreta. O estudante escolhido para fazer parte da confraria é convidado para assistir a sua festa por dois ou três colegas, e a vir trajado a rigor. No dia determinado os colegas vão buscá-lo e aí tomam o compromisso sagrado pelo qual respondem com a vida, se por ventura fale sequer sobre o que lhe vai ser revelado. Mesmo que, uma vez exposto os seus fins, dela não queria ser parte.

Os fins aparentes são resumidos na sua fórmula fundamental de abertura das seções: FÉ – ESPERANÇA – CARIDADE.

FÉ, na ciência e a divulgação; fé na socieade para a qual pelo resto da vida estará ligado, sob terríveis juramentos; fé na sua proteção, pois terão para consquista de posições todas as facilidades.

ESPERANÇA, em serem sempre os senhores deste maravilhoso tonel e desta enorme população de ignorantes, onde eles são a verdadeira aristocracia.

CARIDADE, auxílio mútuo, em todas as emergências da vida, ao camarada.

Com o correr do tempo, simplificou-se o nme da confraria e ficou conhecida pelo nome de “BUCHA”

A “BUCHA” dirigia os estudantes através do Centro XI de Agosto. Todos os seus presidentes foram bucheiros, pertencentes ao apostolado e ao conselho dos doze, até que oposição acadêmica conseguiu vender a “BUCHA”, elegendo a direito do Centro para 1926 e trazendo para o domínio público o conhecimento da existênci dessa terrível camorra.

Tem ela em ela em suas mãos todos os altos poderes do Estado.

A ela devemos algumas campanhas na evolução política do Brasil, até 1922; assim a palavra de ordem foi dada para a campnaha abolicionista, para a proclamação da República, para o serviço militar obrigatório.

Quando se fundou o Centro Acabdêmico compunham a suprema direção da “BUCHA” os senhores: Pedro Lessa, Frederico Vergueiro Steidel, e Raphael Smapio, todos catedráticos da Faculdade; era chefe supremo o sr. Pedro Lessa. Por morte deste assumiu a direção o sr. Steidel.

Com a extraordinária expansão do país, achou Vergueiro Steidel conveniente fazer a explansão da “BUCHA”, estabelecendo-a em outras Escolas Superiores. Assim, propagou-se para a Esocla Politécnica e Faculdade de Medicina de São Paulo.

Foi ela quem fechou a Universidade de São Paulo.

Parte dela a oposição movida contra os engenheiros do Mackenzie College que encontram todos os entraves possíveis para venderem na vida. Vem cuminar esta oposição com o recente decreto do Governo Provisóiro invalidando diploma de engenheiro fornecido por esta escola.

Resolveu também Vergueiro Steidel criar um corpo externo que combatesse pleo programa da “BUCHA”. Fundou-se então a Liga Nacionalista propagando o voto secreto.

Já os anseios do povo brasilerio eram fortes para a sua libertação política e social: a “B UCHA”, com a fundação da Liga Nacionalista e Campnha do Voto Secreto, lançava uma máscara ao povo, tapenado-o na sua revolta contra os dominadores. Era o voto secreto para a Liga Nacionaista, a panacéia que haviera de regenerar as imoralidades administrativas e políticas, quase todas praticadas por membros da camorra.

O polvo bucheiro dominava discrecionariamente o Brasil todo. Tal o seu poder que o Barão do Rio Branco, homem de maior veneração dos brasileiros no período republicano, teve de vir a São Paulo responder perante a “BUCHA” por ter inconscientemente conversado sobre ela com um amigo que julgou ser também da confraria. Isto em 1905;

O grande Pinheiro Machado, pagou com a vida o ter-se oposto ás ordens da “BUCHA”. Foi por esta assassinado. Manso Paiva não foi mais que instrumento inconsciente.

O ridículo e o oprobio cobriram o Marechal Hermes da Fonseca: era um Presidente não bucheiro. Teve que suportar todo o peso da camorra.

A “BUCHA” mata quem se lhe opõe ou divulga o seu conhecimento!

Moacyr Pisa quis enfretá-la e foi por ela morto. Seu irmão silenciou por conveniência política.

Quando algum profado alegava imprevistamente ter conhecimento da “Bucha”, era forçado a calar-se ou ser iniciado, dizendo-se, então, na gíria bucheira, que tinha entrado pela janela. Foi o que aconteceu ao atual chefe de polícia, Thyrson Martins, que, quando ofi pela primera vez chefe de polícia em São Paulo, teve ciência, por seus inspetores de que havia reuniões secretas na rua da Liberdade; estávamos já em pleno período de intranquilidade. Abava de realizar-se a greve dos operários do Bras e da Moóca, greve que foi sufocada a metralhadora. Era presidente do Estado do bspo civil de São Paulo, Altino Arantes, representante do cleo junto a “BUCHA”.

Thyrson Martins, homem corajoso, quis pessoalmente dirigir a diligência. Dado o cerco a casa, ele em pessoa fez abrir a porta em nome da polícia e qual não foi o seu espanto, quando lhe apareceu o secretário da justiça, o estão Elou Chaves, encasacado e também o beatífico queixo do sr. Altino Arantes, presidente do Estado.

Caira o Sr. Thyrson Martins em cheio na “BUCHA”. Resultado: entrou pela janela, sendo iniciado nessa mesma noite; depois de ter dispensado os seus inspetores. A grei estava toda reunida: Steidel, Rapahel Sampai, Reynaldo Porchat. Quem deu as boas vindas ao neófito, foi o orador oficial da “BUCHA” na época, o dr. Lino Moreira, genro do atual interventor de São Paulo, Pedro de Toledo. Vejam bem por aí a missão de Pedro de Toledo em São Paulo. Como bom bucheiro restabeleceu o domínio absoluto da “BUCHA”.

É hoje o sr. Thyrson Martins um dos seus apóstolos. Os anseios de liberdade do povo são sempre abafados pela camorra e de uma maneira magistral.

Fazem com que as oposições sejam chefiadas pelos bucheiros; assim o povo, na sua ignorância, julga ter chefes quando não tem mais do que traídores. A campanha da Liga Nacionalista pelo voto secreto é o princípio de tomada de posições para desviar os anseios do povo.

Chegamos em pleno regime revolucionário. Temos a revlução de 1924 em São Paulo. parece como um de seus chefes civis o Dr. José Carlos de Macedo Soares, influenciando e anulando o bravo e generoso general Izidoro Dias Lopes. Para valizarmos a hiporcrisia deste bucheiro graduado, ex-presidente do Centro Acadêmico, basta notarmos que, sendo ele chefe civil de uma revolução, foi quem escondeu em sua cas Sylvio de Campos e irmandade. Foi desde então o fiscal destacado pela Câmara conta Izidoro e vemos como, depois de 1930, consegue anular a ação do general Izidoro, incotestavelmente um dos ídolos de São Paulo. Acabada a obra de destuição de Izidoro; ei-lo gozando as delícias de uma embaixada. “

Titília e o Demonão – Cartas inéditas de Pedro I à marquesa de Santos

Amor e paixão na maior descoberta de documentos da História do Brasil.

Ao longo de quase dois séculos, ficaram escondidas dos olhos do mundo 94 cartas íntimas do imperador dom Pedro I para a célebre marquesa de Santos, com quem manteve um turbulento caso de amor que constituiu o mais ruidoso escândalo da sua época e o maior romance da nossa história. Agora, transcritos e comentados, esses documentos profundamente humanos e de incomparável valor histórico nos mostram um jovem monarca impetuoso e apaixonado, dono de aguçado senso de humor, que escreve coisas libidinosas à amante, tenta acalmar as crises de ciúmes dela ao mesmo tempo em que esbraveja, movido pelo mesmo estado emocional, mas também revelam um homem atencioso para com a mulher amada, os desabafos dele, sua preocupação com os problemas brasileiros, seu interesse e carinho pelos filhos, permitindo-nos conhecer de fato a personalidade do líder que promoveu a nossa Independência, ao mesmo tempo em que descortinam, por meio de detalhes prosaicos, um rico painel da vida cotidiana e dos costumes do Brasil durante o Primeiro Reinado.

“Titília e o Demonão é um marco importantíssimo no entendimento da biografia de d. Pedro I. Fiquei encantado ao ler esse livro”.
Laurentino Gomes

“Titília e o Demonão está belíssimo. Suas notas e apresentação, impecáveis. Que prazer em ler e aprender com pesquisas como estas!”
Mary Del Priore

 

 

Titília e o Demonão – cartas inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos
Autor: Paulo Rezzutti
Assunto: Cartas de Amor, História do Brasil, Biografias
Formato 15,5×22,5 cm, 352 págs.
ISBN: 978-85-61501-62-4
Cód. barra: 978-85-61501-62-4
Peso: 0.5 kg.
R$ 39,90

Doação de livros para a Revolução Constitucionalista de 1932

Durante a Revolução Paulista de 1932, o jornal “O Estado de São Paulo” lançou uma campanha inusitada para levantar fundos para os órfãos e viúvas da causa constitucionalista: leilões de livros através de suas páginas.

A campanha funcionava da seguinte maneira: Os doadores enviavam os livros para o jornal, pessoalmente, pelo correio, ou ainda, para os que moravam no interior, por meio do Comando Revolucionário de sua cidade.

Cada livro recebia um código numérico, e uma listagem das obras era publicada numa seção especial do jornal. Os interessados pelos títulos anotavam o código do livro desejado e mandavam os lances por carta, ou deixavam um bilhete na portaria do jornal. Arrematava a obra quem desse o maior valor. Não raro, os livros doados já seguiam com um lance inicial do próprio ofertante.

Examinando as ofertas, podemos ver um acervo bastante variado. O arroz de festa, ofertado em quase todos os leilões, era a coleção “Thesouro da Juventude”. Mas também foram leiloadas obras raras, como primeiras edições dos Padres Antonio Vieira e Manoel Bernardes, um “Os Sertões” autografado por Euclides da Cunha e obras raras francesas em primeira tiragem de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, entre outros.

Algumas cartas que acompanhavam os livros eram assinadas por seus doadores, como os escritores Paulo Setúbal e Cassiano Ricardo, o Cônsul da Lituânia em São Paulo, “pelos jovens” e “pelas jovens” paulistas, cujos pais certamente ditaram os bilhetes de doação – escritas em corretíssimo português por mãos ainda não muito acostumadas a pegar em um lápis. Outras eram subscritas por: “Um Patriota”, “Paulista Consciente” e diversos outros pseudônimos.

O jornal contratou o pintor José Wasth Rodrigues para confeccionar o ex libris dessa campanha. Quem arrematasse uma das obras podia mandar uma carta para a redação, com um envelope já selado para resposta, informando qual livro havia adquirido. O responsável pelo setor enviava o ex libris correspondente dentro do envelope recebido.

Os ex libris foram confeccionados em três tamanhos: 5 cm X 9,4 cm, 7,4 cm X 12,5 cm e 11,4 cm X 19,4 cm, cada um relativo a um tamanho de livro: in-oitavo, in-quarto e in-fólio. Na margem superior, lê-se em letras pretas a frase: “LIVRO DOADO EM BENEFÍCIO / DOS ORPHAMS DA REVOLUÇÃO”. Na margem inferior, os dizeres: “POR INTERMÉDIO DO / O ESTADO DE S. PAULO / Nº…………..” No centro do ex libris, um retângulo amarelo tendo, desenhado em preto, um garoto de pé, vestido com uniforme de marinheiro, com um espadim de um lado da cintura e do outro um tambor, que segura com a mão direita um mastro feito com bambu. Amarrado na ponta do mastro, um pedaço de pano esvoaça por cima do menino; nele constam os seguintes dizeres: “SI FOR PRECISO / NÓS TAMBÉM / VAMOS!”. Na lateral esquerda do garoto, ainda dentro do campo amarelo, a inscrição: “EX- / LIBRIS”.

Estadão repagina-se e apaga história paulistana

Este ano, o jornal “O Estado de São Paulo” mudou de visual, e de símbolo. Ao estilizar seu logotipo, apagou a paisagem bucólica de uma São Paulo provinciana.

O ex-libris tomado como logo prestava uma homenagem ao primeiro jornaleiro paulistano, o francês Bernard Gregoire, que em 1876 passou a andar vagarosamente com o seu cavalo pelas estreitas ruas de São Paulo de Piratininga, tocando sua corneta e anunciando a venda da edição do dia de “A Província de São Paulo”, por 40 réis. O jornal “A Província” viria, anos mais tarde a se transformar em “O Estado de São Paulo”.

Além de Gregoire, o ex-libris retrata uma paisagem que já não existe mais. A construção às costas do jornaleiro é o prédio da antiga Sé de São Paulo, demolido no começo do século passado, e a outra edificação é a antiga Igreja de São Pedro, igualmente desaparecida. Para o paulistano localizar-se, nos dias de hoje o prédio da Caixa Econômica, na Praça da Sé, ocupa o lugar da igreja de São Pedro, enquanto que a igreja da Sé tem seu lugar assinalado pela estátua de Anchieta em um canto da atual praça da Catedral paulistana, próximo à Rua Direita.

Nos anos 30 do século XX, o artista José Wasth Rodrigues (1891-1957) confeccionaria para o jornal esse ex-libris. Wasth Rodrigues foi um importante pintor e desenhista paulistano do início do século. Seus trabalhos são os mais variados: é autor do desenho do brasão da cidade de São Paulo, em coautoria com Guilherme de Almeida; realizou as pinturas dos azulejos dos monumentos do antigo Caminho do Mar e da reurbanização do Largo da Memória; fez pesquisas históricas e arquitetônicas que deram origem a livros como o “Documentário Arquitetônico”, ainda hoje editado, e o raríssimo “Uniformes do Exército Brasileiro”, em coautoria com Gustavo Barroso. Dedicou-se à pintura de óleos e aquarelas, sempre com motivos brasileiros, por conta de seu nacionalismo convicto.

E assim, com este post, inauguro este espaço, que mais que um muro de lamentação pelo descaso com a história paulistana, tem a pretensão de ser um canto de histórias e “causos” sobre a cidade. Aqui pretendo falar de seu passado, de seus fantasmas, da beleza de uma cidade que, como algumas mulheres, não se entrega fácil a um primeiro e descuidado olhar.