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Posts Tagged ‘Imperatriz Leopoldina’

Exibição do filme Independência ou morte + mesa redonda

A II Edição da “Sessão Pipoca” patrocinada pela São Paulo Antiga e pelo Museu dos Salesianos apresentará no dia 7 de setembro as 15h o filme “Independência ou Morte” no Teatro Grande Otelo em São Paulo. Após o filme haverá uma mesa redonda com a historiadora Viviane Tessitore, especialista na vida de D. Leopoldina, Cláudia Witte, biógrafa da Imperatriz D. Amélia, e Paulo Rezzutti, biógrafo da Marquesa de Santos.

Picnic Vitoriano, uma volta ao passado.

Jogue a primeira pedra aquele que gosta de história e nunca se imaginou vivendo em outro tempo! Se a viagem para outros períodos ainda se encontra no campo da ficção científica, o Picnic Vitoriano permite se aproximar um pouco dessa experiência.

Fundado pelo escritor Rommel Werneck em 31 de julho de 2010, o evento é inspirado no grupo Picnic Vitoriano de Curitiba e nos eventos da fotógrafa belga Viona Ielegems. Recriando trajes, costumes e hábitos não só da Era Vitoriana, mas de um amplo espectro que vai do início da Idade Média até o final da Primeira Guerra Mundial, o grupo promoveu eventos como o Passeio Fotográfico no Parque da Independência e Chá das Cinco na casa de pães Maria Louca, em novembro de 2011, o Passeio Fotográfico na Estação da Luz durante a madrugada da Virada Cultural, em maio de 2012, e o II Picnic Vitoriano de São Paulo, em julho de 2012.

Os eventos, além do revivalismo artístico dos trajes, contam com exibição de esgrima renascentista, organizado pelo grupo Frater Pendragon, leitura de poesias, música erudita, além de ilusionismo, brincadeiras e jogos.

Esse clima de época poderá ser visto e vivenciado em 16 de setembro, durante as comemorações do aniversário do bairro do Ipiranga, quando o Picnic Vitoriano participará do desfile cívico organizado pela Associação Comercial de São Paulo, procurando reconstituir personagens e trajes do Primeiro Reinado em alusão aos 190 anos da Independência do Brasil.

Os interessados em participar devem enviar um e-mail para picnic_sp@yahoo.com.br.

Para mais informações sobre a customização de trajes e fotos dos eventos anteriores: www.picnicvitoriano.blogspot.com.

Auto da Independência, em comemoração aos 190 anos da Independência do Brasil.

No dia 02 de setembro (domingo), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) promove, no Parque da Independência, em São Paulo, o evento Auto da Independência, em comemoração aos 190 anos da Independência do Brasil.
Trata-se da primeira encenação teatral da Proclamação da Independência, ato em que D. Pedro I anunciou às margens do riacho do Ipiranga. As cenas históricas do último ato serão interpretadas pelos atores Murilo Rosa (D. Pedro I), Deborah Secco (Maria Leopoldina) e Renato Borghi (José Bonifácio Andrada e Silva). A direção é de Nelson Baskerville (Prêmio Shell 2012 como melhor diretor).
Com mais de 250 profissionais envolvidos, a festa de 190 anos da Proclamação da Independência terá ainda, ao longo do dia, apresentações de danças da época e músicas eruditas em vários locais do Parque da Independência.
                                   PROGRAMAÇÃO                                          
11:30 – Minueto – Coregraphie o arte para saber danzar todas as sortes de danzas (Esplanada do Museu)
11:45 – ATO I – Cortes Portuguesas (Esplanada do Museu)
12:00 – Ópera-Domitila (Esplanada do Museu-Coreto Leste Praça das Bandeiras)         
12:15 – ATO II – Maria Leopoldina (Coreto Leste Praça das Bandeiras)  
12:30 – Música da Independência-por Rosana Lanzelotte no pianoforte (Coreto Oeste Praça das Bandeiras)
12:45 – ATO IIIJosé Bonifácio (Coreto Oeste Praça das Bandeiras)
13:00 – Lundu (Praça das Bandeiras)    
13:15 – ATO I (Cortes Portuguesas-Esplanada do Museu)           
13:30 – Minueto – Coregraphie o arte para saber danzar todas as sortes de danzas (Esplanada do Museu)
13:45 – ATO II – Maria Leopoldina (Coreto Leste Praça das Bandeiras)
14:00 – Música da Independência – por Rosana Lanzelotte no pianoforte (Coreto Oeste Praça das Bandeiras)
14:15 – ATO IIIJosé Bonifácio (Coreto Oeste Praça das Bandeiras)
14:30 – Lundu – (Praça das Bandeiras)
14:45 – ATO ICortes Portuguesas(Esplanada do Museu)     
15:00 – Minueto – Coregraphie o arte para saber danzar todas as sortes de danzas (Esplanada do Museu)
15:15 – Ópera-Domitila(Esplanada do Museu)            
15:30 – ATO II – Maria Leopoldina-Coreto Leste Praça das Bandeiras
15:45 – Música da Independência – por Rosana Lanzelotte no piano forte
16:00 – ATO IIIJosé Bonifácio(Coreto Oeste Praça das Bandeiras)
16:15 – Lundu(Praça das Bandeiras)
16:30 – Cortejo da independência (Alameda Principal)
17:00 – Ato Final – Auto da Independência (Monumento à Independência do Brasil) – com a participação de Murilo Rosa, Deborah Secco e Renato Borghi

A Marquesa de Santos e o Teatro Brasileiro – Uma palha da biografia

Em 1824, o imperador D. Pedro I decretou o fechamento do Teatrinho Constitucional São Pedro, no Rio de Janeiro. Os mexericos da época davam o motivo: os proprietários teriam impedido que uma certa senhora entrasse. A história não guardou o nome de quem a barrou, mas de Domitila de Castro, a futura marquesa de Santos, todos já ouviram falar. E esta nunca deixaria o teatro brasileiro.

Domitila entrou para o imaginário popular devido ao seu relacionamento com d. Pedro. Conheceram-se em São Paulo, em agosto de 1822, pouco antes de o jovem dissolver os laços políticos que nos uniam a Portugal. Ela, divorciada do primeiro marido; ele, casado há cinco anos com a arquiduquesa Leopoldina.

A crônica da época nos revela que, na noite de 7 de setembro, após o evento no Ipiranga, a cidade vestiu-se de gala e foi saudar d. Pedro no Teatro da Ópera, no Pátio do Colégio. Houve a apresentação da peça O Convidado de Pedra, de Tirso de Molina, sobre o célebre amante Don Juan, imortalizado por Mozart na ópera “Don Giovanni”. Nela, Leporello, servo do sedutor, conta que seu mestre tinha, só na Espanha, “mille i tre” amantes. D. Pedro, que assinava suas cartas para Domitila como “Demonão”, ficaria tão famoso quanto Don Juan pela quantidade de amantes, reais e atribuídas. Segundo alguns relatos, ele não ficou até o final da peça. Teria saído mais cedo para se encontrar com sua Titília, com quem tinha iniciado um relacionamento em 29 de agosto de 1822.

Quando Domitila foi morar no Rio de Janeiro, em 1823, a convite do já imperador d. Pedro I, o teatro ainda continuaria sendo, por muito tempo, palco de encontros entre ambos.

O comerciante inglês John Armitage deixou registrado o incidente ocorrido em setembro de 1824, quando Domitila foi impedida de entrar no Teatrinho Constitucional sob a alegação de que, por ser uma sociedade particular, somente era permitido o comparecimento de estranhos com convites especiais, que ela não possuía. Ao saber do incidente, o imperador, presente ao evento, retirou-se. Em 22 desse mês, d. Pedro, amparado pela lei que punia sociedades secretas e usando do pretexto de que o grupo teatral não havia submetido seus estatutos ao governo, ordenou que fechassem o teatro. Os artistas foram despejados, e seus trajes e cenários alimentaram uma enorme fogueira. Curioso com a cena, Armitage descobriu que o incidente devia-se à “Nova Castro”, uma referência zombeteira ao romance entre d. Pedro I de Portugal e Inês de Castro, que foi rainha depois de morta. Nome também de uma peça então em moda.

Durante os sete anos em que o relacionamento se desenvolveu, cheio de altos e baixos, ataques de ciúmes e juras de amor, o Imperial Teatro São Pedro de Alcântara, onde hoje se ergue o teatro João Caetano, no centro do Rio de Janeiro, foi um dos cenários onde era possível encontrar socialmente Domitila e d. Pedro sob o mesmo teto. Ele no camarote imperial, e ela, em outro presenteado por ele.

As cartas trocadas entre d. Pedro e Domitila mostram, por exemplo, que ambos eram fãs de peças:

“Como tu tens estado sem ires (e por mui justo motivo) ao Teatro, e tendo nós muito apetite de assistirmos à Comédia Francesa, e podendo-o não ir eu hoje ao Teatro, e ir depois de amanhã parecer combinação entre nós (…)” 13/12/1827

Em outra mensagem, o imperador ilustra bem como se dava o flerte, não apenas entre ele e sua amante, mas na sociedade em geral, pela “linguagem das flores”. Por esse código, que os viajantes ingleses já haviam notado na Turquia e que os franceses acabaram por disseminar pela Europa, era possível conversar sem palavras e a distância. Não só cada flor tinha um significado como o modo de ofertar e receber eram carregados de simbolismo.

“(…) Remeto-te como em sinal de paz esses lírios brancos (…). Eu muito estimarei que eles sejam por ti recebidos, conhecendo ao mesmo tempo que o amor por ti é que me compele a oferecer-tos. (…) Peço-te que pelo menos um dos lírios goze do teu calor no teatro.” 21/6/1829

No mesmo ano, d. Pedro baniria Domitila para São Paulo, grávida. Era necessário para demonstrar publicamente sua regeneração moral. A dificuldade dos emissários brasileiros em conseguir uma nova esposa para d. Pedro, após a morte da imperatriz Leopoldina, calou fundo no monarca, que, ao se ver casado com uma jovem princesa alemã de 16 anos, tomou todas as providências cabíveis para se livrar da amante.

De volta à provinciana São Paulo, a marquesa manteve os hábitos da corte. Adorava saraus e não perdia representações teatrais. Altiva, não se deixou abater quando um boato deu conta que uma trupe de atores amadores, formada por estudantes da Faculdade de Direito, iria lhe fazer uma sátira. Compareceu ao teatro, e a sátira não se realizou.

Domitila faleceu em São Paulo em 3 de novembro de 1867, perto de completar 70 anos. Deixou vasta descendência e uma fama tão grande e com tantos matizes que só poderia ter sido produzida por uma figura ímpar.

Monteiro Lobato, em maio de 1923, durante os festejos do centenário da independência, confidenciava ao seu amigo Godofredo Rangel:

“Estou com ideia dum romance histórico, Titila. Tenho de estudar o primeiro império para romancear historicamente a famosa marquesa do Pedro I. (…) A Titila titilava. Prendeu aquele garanhão durante oito anos”.

Desse romance projetado por Lobato não houve mais notícia até as pesquisas realizadas para a biografia Domitila, a Verdadeira História da Marquesa de Santos. O jornal paulista Folha da Noite de 21/11/1923 dá uma pista:

“Uma peça de Monteiro Lobato – A Oduvaldo Viana, diretor da Companhia Abigail Maia, o ilustre escritor Monteiro Lobato acaba de fazer a entrega dos originais da peça de época ‘A Marquesa de Santos’, que vai ser posta em cena com rigorosa montagem, no início da temporada.”

Infelizmente, essa peça nunca foi levada aos palcos. Não existe nenhuma outra notícia a respeito dela, e até o momento, nos acervos de Lobato e de Viana, nada sobre o assunto surgiu. Teria o pai da Emília “plantado” a notícia para ver a reação do público? O interessante sobre essa história é que Oduvaldo, mais tarde, representaria diversas vezes d. Pedro I, tanto em A Marquesa de Santos, de Viriato Correa, quanto em O Imperador Galante de Raimundo Magalhães Jr.

Em 4 de março de 1938, estreava em São Paulo a peça de Viriato Correa, que incluía três composições do maestro Heitor Villa Lobos: “Gavota-Choro”, “Valsinha Brasileira” e o famoso “Lundu da Marquesa de Santos”, que, sendo originariamente cantado por d. Pedro, hoje faz parte do repertório de sopranos. Domitila era representada pela atriz Dulcina de Moraes. Apresentada no Rio de Janeiro em 30 de março do mesmo ano, a peça contou com os atores Zilka Salaberry, como a imperatriz Leopoldina, Dercy Gonçalves, como uma aia na versão carioca, e Manoel Pêra, pai da atriz Marília Pêra, como Chalaça.

Montada com subsídio governamental, encaixava-se na política do Estado Novo de exaltação dos heróis nacionais. Domitila foi usada para, literalmente, endeusar d. Pedro I, como bem ilustra uma de suas falas ao relembrar o 7 de setembro: “[O imperador] não parecia criatura igual às outras criaturas. O sol caía-lhe em cima inteirinho e ele estava todo coberto de sol, todo dourado como figura sobrenatural. Como um deus!”. O público pôde, nessa peça, conhecer uma marquesa amorosa, ansiosa por atenção exclusiva, não poder ou negociatas. Titília, pronta a realizar o maior dos sacrifícios, resolve abandonar o imperador para salvar a honra do Brasil no exterior. O amor dela serviu de mote para apresentarem o herói da independência pronto para o consumo popular, em grandioso cenário e riquíssimo guarda-roupa.

Durante as comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo, em 1954, foi posta em cartaz a peça O Imperador Galante, que havia estreado um ano antes no Rio de Janeiro. Escrita na década de 1940, foi levada ao palco com Oduvaldo e Dulcina novamente nos papéis principais. O ator Carlos Zara estreou profissionalmente nessa montagem. O Imperador Galante não ficou atrás do “tom” da obra de Viriato Correa. Segundo o crítico Décio de Almeida Prado, ela conseguira cumprir a missão de “encher o coração do público de ardor patriótico ou sentimental e os seus olhos de assombro e encantamento pela riqueza e pompa do espetáculo, obrigatório em tais evocações do passado”. (17/3/1954)

Sete anos depois, em 1961, desembarcavam no Rio de Janeiro os produtores norte-americanos Deed Meyer e Stuart Bishop, que pretendiam levar para a Broadway essa história de amor com o nome The Petticoat Prince. Bishop havia recebido de presente da cantora Barbara Ashley o livro Amazon Throne, de Bertita Harding, publicado no Brasil sob o título de O Trono do Amazonas: a história dos Braganças no Brasil, uma grande colagem de fofocas e mexericos históricos. Entretanto esse folhetim, que por pouco não virou outra peça da Broadway musicada por Ary Barroso em 1941, despertou o interesse dos produtores. Eles vieram fotografar e tirar as medidas do Palacete do Caminho Novo, antiga residência de Domitila no Rio de Janeiro, para convertê-lo em luxuoso cenário, que nunca saiu do papel.

Não foram apenas os norte-americanos que projetaram uma peça sobre Domitila que não estreou. Diversas outras Marquesas de Santos tiveram a mesma sina. Luís Edmundo publicou a sua em 1924. Premiada pela Academia Brasileira de Letras, nunca foi montada. A obra de Luiz Carlos Barbosa Lessa teve o mesmo fim. Escrita para as comemorações dos 150 anos da Independência em 1972, também não foi levada à cena. Ainda temos o caso ocorrido este ano, quando, a um mês da estreia, Lírios Brancos para a Marquesa, de Beth Araújo, foi subitamente cancelada pelo fechamento do Museu do Primeiro Reinado. O prédio, antigo palacete da marquesa de Santos, onde a peça seria encenada, será ocupado pelo Museu da Moda.

Durante as comemorações do sesquicentenário da independência, um d. Pedro I mais humano, e ainda apaixonado pela sua Titília, surgiu na peça Um Grito de Liberdade, de Sérgio Viotti. A montagem tinha Antônio Fagundes como d. Pedro, Ana Maria Dias como a imperatriz Leopoldina e Nize Silva interpretando a marquesa de Santos. Estreada em São Paulo em 24 de outubro de 1972, contava também com os autores Ruthineia de Moraes, Elias Gleizer, Zezé Mota, Tony Ramos e Marcelo Picchi. O tom político da peça dialoga com o Brasil da época da ditadura. Segundo o diretor Osmar Rodrigues Cruz: “Tentamos mostrar um homem comum e falível, suas relações humanas e as implicações políticas resultantes do caráter autoritário e da sede de poder deste imperador que preferia dissolver a Assembleia Constituinte a ter que admitir suas falhas e o cunho ditatorial de seu governo”.

Em 2000 colocaram Titília para cantar seu amor na ópera de câmara “Domitila”. Estreada no Rio de Janeiro, com música e libreto do compositor carioca João Guilherme Ripper, uma soprano, acompanhada por clarineta, violoncelo e piano, cantou as cartas recebidas de seu imperial amante. Contemplada com o Prêmio Circuito Funarte de Música Clássica em 2010, foi reencenada em Porto Alegre, Joinville, Cuiabá, Campo Grande e Dourados. No papel de Domitila a Soprano Maíra Lautert. A direção musical ficou a cargo de Priscila Bomfim e a direção cênica de Luiz Kleber Queiroz.

Uma das últimas peças a entrar em cartaz tendo Domitila como personagem foi escrita por Ênio Gonçalves. Pedro e Domitila estreou em 1984, tendo o autor como d. Pedro I e Taya Perez como a marquesa. A direção ficou a cargo de Mario Masetti. Com modificações finais no texto e o acréscimo de um casal de escravos que auxiliam na narrativa, teve sua última montagem profissional, dirigida pelo autor, em 2008.

Será que, com esse currículo, alguma sociedade artística teria coragem de expulsar Titília de seu teatro nos dias de hoje?

Paulo Rezzutti

Texto publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais – SBAT em dezembro de 2011

Titília e o Demonão – Cartas inéditas de Pedro I à marquesa de Santos

Amor e paixão na maior descoberta de documentos da História do Brasil.

Ao longo de quase dois séculos, ficaram escondidas dos olhos do mundo 94 cartas íntimas do imperador dom Pedro I para a célebre marquesa de Santos, com quem manteve um turbulento caso de amor que constituiu o mais ruidoso escândalo da sua época e o maior romance da nossa história. Agora, transcritos e comentados, esses documentos profundamente humanos e de incomparável valor histórico nos mostram um jovem monarca impetuoso e apaixonado, dono de aguçado senso de humor, que escreve coisas libidinosas à amante, tenta acalmar as crises de ciúmes dela ao mesmo tempo em que esbraveja, movido pelo mesmo estado emocional, mas também revelam um homem atencioso para com a mulher amada, os desabafos dele, sua preocupação com os problemas brasileiros, seu interesse e carinho pelos filhos, permitindo-nos conhecer de fato a personalidade do líder que promoveu a nossa Independência, ao mesmo tempo em que descortinam, por meio de detalhes prosaicos, um rico painel da vida cotidiana e dos costumes do Brasil durante o Primeiro Reinado.

“Titília e o Demonão é um marco importantíssimo no entendimento da biografia de d. Pedro I. Fiquei encantado ao ler esse livro”.
Laurentino Gomes

“Titília e o Demonão está belíssimo. Suas notas e apresentação, impecáveis. Que prazer em ler e aprender com pesquisas como estas!”
Mary Del Priore

 

 

Titília e o Demonão – cartas inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos
Autor: Paulo Rezzutti
Assunto: Cartas de Amor, História do Brasil, Biografias
Formato 15,5×22,5 cm, 352 págs.
ISBN: 978-85-61501-62-4
Cód. barra: 978-85-61501-62-4
Peso: 0.5 kg.
R$ 39,90

Equívocos sobre a Marquesa de Santos na Revista de História

A Revista de História da Biblioteca Nacional, trouxe na edição de janeiro de 2011 dentro do tema (eu ia colocar retranca mas me disseram que é técnico demais…) “Dossiê Amantes” uma matéria chamada “Traição aprendida no berço real”, onde são narradas as diversas aventuras amorosas de d. Pedro I, em especial com Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos, com quem se relacionou por quase oito anos. Fiz uma lista dos equívocos que encontrei e mandei para lá. Foram todos bastante simpáticos e disseram que iriam selecionar algumas das falhas apontadas e publicar na sessão de cartas, enquanto isso não ocorre, publico aqui na íntegra os equívocos cometidos na matéria:

– D. Pedro I não se fixava com nenhuma amante “até ir a São Paulo, em setembro de 1822, quando proclamou a independência”. Na realidade d. Pedro partiu do Rio de Janeiro em 14 de agosto, entrando na cidade de São Paulo em 25 do mesmo mês.

– “Ela (Domitila) levara uma facada do marido certa manhã em que voltava, às escondidas, para casa”. Domitila foi esfaqueada pelo marido não uma, mas duas vezes, uma na coxa e outra na virilha, próximo da fonte de Santa Luzia, que se localizava nas imediações de onde hoje se encontra a pequena capela de Santa Luzia e do Menino Jesus de Praga, na rua Tabatinguera, 104, no centro de São Paulo. O marido tentou acusá-la de adúltera, e ela foi defendida pelo capitão-general de São Paulo, espécie de governador da época, João Carlos de Augusto de Oyenhausen, em carta para d. João VI. Oyenhausen afirmava que Felício, então marido de Domitila, era um homem violento e desumano, que deixava a esposa e os filhos passarem necessidades.

– “Logo após tornar-se imperador, D. Pedro deixa de lado a discrição, transformando Titília, como a chamava, numa ‘teúda e manteúda’ que é apresentada à Corte e instalada em uma casa, atual Museu do Primeiro Reinado, ao lado do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro”. D. Pedro foi coroado Imperador do Brasil em dezembro de 1822. Domitila chegou ao Rio de Janeiro no primeiro trimestre de 1823, indo morar em Mata-Porcos, onde hoje se localiza o bairro do Estácio. D. Pedro perderia a discrição por volta de 1826, com a viagem a Bahia levando Domitila e o reconhecimento da paternidade da primeira filha que teve com ela. Nesse ano, Domitila muda-se para a propriedade que ficou conhecida como Palacete do Caminho Novo do Imperador, atual Museu do Primeiro Reinado, distante 900 metros da residência do imperador em São Cristóvão.

– Sobre o incidente do Teatrinho Constitucional Fluminense, ele ocorreu em 1824, diferente do que sugere a sucessão de datas onde o acontecimento está inserido, reforçado pelo fato de chamar Domitila de “Marquesa”, título só recebido em 12 de outubro de 1826. Um incidente mais grave e de maior repercussão, não informado no artigo, foi o modo como Domitila foi destratada pela Baronesa de Goytacazes ao tentar assistir missa na tribuna reservada às damas do paço na Capela Imperial, em 1825. Esse incidente fez com que fosse nomeada, por d. Leopoldina, como Dama Camarista da Imperatriz, cargo que lhe conferia, além do direito de usufruir da tal tribuna, precedência sobre as demais damas de honra.

– Isabel, a “Bela” ou “Belinha”, como carinhosamente chamava d. Pedro I a primeira filha dele com Domitila, só passou a se chamar Isabel Maria após 1826, quando o pai a reconheceu oficialmente.

– “Tudo cheirando – como disse um biógrafo – a lençóis molhados e em desalinho”. Alberto Rangel, o principal biógrafo do casal de amantes, na realidade refere-se ao pseudônimo “Fogo-Foguinho”, usado por d. Pedro, como “cheirando a lençóis usados, num leito em bem pouca ordem”. (RANGEL, Alberto. Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, Nova Fronteira, 1984. p. 45)

– “Na presença daquela que é a causa de todas as minhas desgraças” é um trecho da provável última carta de d. Leopoldina, que teria sido ditada para a marquesa de Aguiar. A carta foi endereçada a sua irmã, Maria Luísa, ex-imperatriz dos franceses, e não para o pai, o imperador Francisco I da Áustria, como consta no artigo.

– “O secretário da imperatriz escreveu, em fevereiro de 1826, ao chanceler austríaco (…) para reprovar a ‘fatal publicidade da ligação’ (entre d. Pedro e Domitila)”. O autor da carta, ou melhor, do relatório, foi Philippe Leopold Wenzel, barão de Mareschal (1784-1851), diplomata austríaco encarregado de negócios da Áustria, no Brasil, de 1819 a 1826 e ministro plenipotenciário em 1827, a quem d. Leopoldina dificilmente confiaria o cargo de secretário particular. Em carta de 6 de abril de 1823, a imperatriz pediu ao barão von Stürmer: “(…) seria bom chamar de volta o barão Mareschal, que desfruta aqui de péssima reputação devido a suas opiniões intrigantes e levianas.” in KANN, Bettina; LIMA, Patrícia Souza. Cartas de uma imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade, 2006. p. 419

– “Reunia em São Cristóvão (…) filhos legítimos e ilegítimos, seus sete irmãos, sobrinhos e cunhadas“. Como explicado anteriormente, no início do relacionamento entre Domitila e d. Pedro, esta morava em uma chácara em Mata-Porcos, junto com seus filhos e seus pais. Sua irmã Ana Cândida, seu cunhado Carlos Maria Oliva e sua avó materna moravam no Engenho Velho; a outra irmã, a baronesa de Sorocaba, vivia com a família em uma casa no começo da ladeira da Glória; seu irmão mais novo, Francisco de Castro, ajudante de ordens de Pedro I durante sua viagem a São Paulo em 1822, morava nesta cidade, onde assumira um posto militar; seus irmãos mais velhos serviram ao Exército durante a Guerra da Cisplatina e chegaram a se estabelecer em Porto Alegre.

– “Grávida do imperador pela quarta vez – a filha Maria Isabel de Alcântara Brasileira nasceu no dia 13 de agosto”. Na realidade essa foi a terceira filha do casal de amantes, que morreria de meningite um ano depois. A quarta filha deles recebeu o mesmo nome da criança falecida. Maria Isabel, futura Condessa de Iguaçu, nasceu em São Paulo em 28 de fevereiro de 1830, após o banimento de Domitila da corte para que d. Pedro pudesse se casar

“Ainda como viscondessa, o imperador chegou ao cúmulo de elevar Domitila a dama camarista de sua esposa, D. Leopoldina”. Na realidade foi o contrário, primeiro Domitila foi nomeada Dama Camarista em 4 de abril de 1825. Ela recebeu o título de viscondessa de Santos em 12 de outubro do mesmo ano.