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A antiga São Paulo da Marquesa de Santos

Dia 12 de outubro, sábado – aniversário de D. Pedro I -, estarei com a equipe do São Paulo Antiga fazendo o passeio “A antiga São Paulo da Marquesa de Santos”. Vagas limitadas. O cadastro para participar é feito em http://www.saopauloantiga.com.br/turismo/

Os filhos da Marquesa de Santos

Os filhos da marquesa

As histórias sobre os filhos alegados de Domitila surgem assim que ela retorna a São Paulo. Qualquer afilhado ou protegido, e até mesmo o filho bastardo do brigadeiro Tobias de Aguiar, torna-se, para o povo, filho da marquesa.

Os frutos do relacionamento da marquesa com d. Pedro I, o fato de ter voltado grávida para São Paulo após a saída da corte, a vida transgressora que levava diante de toda a sociedade, aliados à fama de boa parideira, contribuíram para a construção desse mito.

O poeta Álvares de Azevedo, em carta para a mãe datada de 5 de setembro de 1844, comentava:

Ontem a marquesa de Santos me mandou convidar para ir jantar em sua casa por ser o dia de anos do Tobias e por casar-se uma afilhada (que todos dizem que é filha) (…).

Rafael Tobias de Aguiar teve um filho ilegítimo em 1832, chamado João Evangelista de Oliveira. Ele foi criado pela irmã de Tobias, d. Ana Aires de Aguiar. Domitila sempre tratou esse enteado com consideração, o que levantou suspeitas de que ele fosse filho dela, não do respeitável brigadeiro presidente da província.

Também foram imputados a Domitila diversos outros “filhos”, como José Pereira Jorge, agregado à sua casa, Dr. José Manoel Portugal, d. Domitila de Souza Coelho e d. Maria Francisca[1].

Carlos Maul, no seu livro A marquesa de Santos, coletou uma história pitoresca sobre o que Domitila achava disso:

São Paulo está cheio de mulheres bonitas, solteiras, casadas e viúvas. Todas muito honestas. Mas a roda dos enjeitados não cessa de receber crianças… E a mãe de todas elas é sempre a senhora marquesa de Santos… Aceito com satisfação essa maternidade…[2]


[1] RANGEL, Alberto. D. Pedro I e a Marquesa de Santos. p. 79 e 80

[2] MAUL, Carlos. A marquesa de Santos. p. 207.

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Domitila, a verdadeira história da Marquesa de Santos

Meu novo livro acabou de sair da gráfica! Em breve nas melhores livrarias. Já em pré-venda na Livraria Saraiva, Livraria da Folha, Livraria Cultura, entre outras.

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Titília e o Demonão na Caminhada Noturna, no centro de São Paulo

A tradicional caminhada noturna que sai todas as quintas-feiras das escadarias do teatro municipal, as 20hs, terá dois dias do mês de abril dedicados a marquesa de Santos, comigo, Paulo Rezzutti, como convidado.

No dia 12 de abril vamos conhecer a São Paulo que viu Domitila nascer e conhecer d. Pedro I (1797-1822). Passearemos pelos locais onde ela morou, onde se casou com Felício, o primeiro marido e onde ele a esfaqueou. Vamos passear também no local por onde d. Pedro entrou na cidade às vésperas da independência e onde ficava o teatro da Ópera em que ele foi aclamado “Rei do Brasil” na noite do 7 de setembro de 1822. O início do relacionamento dos amantes e a ida de Domitila para o Rio de Janeiro.

No dia 19 de abril vocês vão saber sobre o final do relacionamento entre ela e d. Pedro. Conheceremos a famosa residência dela: o Solar da Marquesa de Santos, próximo ao Pátio do Colégio, onde falarei um pouco a respeito das festas que ela dava, a relação dela com a Academia de Direito e com o poeta Álvares de Azevedo.  Conhecerão o  rico fazendeiro e político Rafael Tobias de Aguiar, seu segundo marido e a influência de Domitila na sociedade paulista até a sua morte em 1867.

O passeio é gratuito, para saber mais: http://www.caminhadanoturna.com.br/caminhada.htm

Titília e o Demonão – Cartas inéditas de Pedro I à marquesa de Santos

Amor e paixão na maior descoberta de documentos da História do Brasil.

Ao longo de quase dois séculos, ficaram escondidas dos olhos do mundo 94 cartas íntimas do imperador dom Pedro I para a célebre marquesa de Santos, com quem manteve um turbulento caso de amor que constituiu o mais ruidoso escândalo da sua época e o maior romance da nossa história. Agora, transcritos e comentados, esses documentos profundamente humanos e de incomparável valor histórico nos mostram um jovem monarca impetuoso e apaixonado, dono de aguçado senso de humor, que escreve coisas libidinosas à amante, tenta acalmar as crises de ciúmes dela ao mesmo tempo em que esbraveja, movido pelo mesmo estado emocional, mas também revelam um homem atencioso para com a mulher amada, os desabafos dele, sua preocupação com os problemas brasileiros, seu interesse e carinho pelos filhos, permitindo-nos conhecer de fato a personalidade do líder que promoveu a nossa Independência, ao mesmo tempo em que descortinam, por meio de detalhes prosaicos, um rico painel da vida cotidiana e dos costumes do Brasil durante o Primeiro Reinado.

“Titília e o Demonão é um marco importantíssimo no entendimento da biografia de d. Pedro I. Fiquei encantado ao ler esse livro”.
Laurentino Gomes

“Titília e o Demonão está belíssimo. Suas notas e apresentação, impecáveis. Que prazer em ler e aprender com pesquisas como estas!”
Mary Del Priore

 

 

Titília e o Demonão – cartas inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos
Autor: Paulo Rezzutti
Assunto: Cartas de Amor, História do Brasil, Biografias
Formato 15,5×22,5 cm, 352 págs.
ISBN: 978-85-61501-62-4
Cód. barra: 978-85-61501-62-4
Peso: 0.5 kg.
R$ 39,90

Onde morou a Marquesa de Santos em São Paulo?

“Estou com ideia dum romance histórico, Titila. Tenho de estudar o primeiro império para romancear historicamente a famosa marquesa do Pedro I. (…) A Titila titilava. Prendeu aquele garanhão durante oito anos”, escreveu Lobato para o seu amigo Godofredo Rangel em maio de 1923. Pena que o pai da Emília não chegou a escrever o livro. Por certo seria bastante saboroso, se mantivesse o tom picante da carta.

Não tenho a veleidade de dissecar o relacionamento de Domitila de Castro Canto e Mello, a Marquesa de Santos (1797-1867) com o nosso primeiro imperador, até porque muitos já o fizeram e nada melhor do que ler a correspondência trocada entre ela e D. Pedro I para se ter uma ideia da paixão entre ambos, a ponto de levar nosso primeiro imperador a assinar as cartas que lhe enviava como: “Seu demonão”, “Seu fogo, foguinho”, além de outros.

A vida da Marquesa de Santos já se prestou de enredo de livro a tema de minissérie, de música composta por Villa Lobos a ópera, mas se muito é lembrada por seu amor com o monarca brasileiro, pouco ou nada se diz a respeito de sua vida em São Paulo. Por isso comecei a realizar um levantamento, que agora apresento, sobre os locais onde Domitila, ou Titila, para os íntimos – que apesar das lendas foram poucos -, morou em São Paulo.

O pai de Domitila, João de Castro do Canto e Melo (1740-1826), chegou a São Paulo em 1772. Era militar e teve, até onde consegui descobrir, três residências. Uma, que até parece lenda e como tal é encarada pelo DPH, ainda está de pé. É a famosa Casa do Grito:

Localizada dentro do Parque da Independência, serviria de casa de campo da família. Tanto Alberto Rangel quanto Nuto Santana citam que a casa pertencia ao pai de Domitila e que a edificação foi bastante modificada, a ponto de se retirar uma água-furtada que existia. Mario de Andrade, em relatório de 1937, afirma que a casa havia sido muito mexida, inclusive com abertura de portas e janelas, sendo que da original, pouca coisa restava.

Domitila passou parte de sua juventude em um sobrado na rua do Ouvidor atual Rua José Bonifácio (não confundir com Ladeira do Ouvidor), e dava fundos para o Largo de São Francisco.

Dessa última morada, Titila saiu casada com o Alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça (1789–1833), de mudança para Minas Gerais. Retornaram para São Paulo em meados da década de vinte do século retrasado. Domitila, separada, voltou para a casa paterna, que então localizava-se onde hoje está o bairro da Liberdade e era conhecida como Chácara dos Ingleses, apelido devido a um proprietário anterior, de nome João Rademaker.

Sobre essa construção, Affonso A. de Freitas diz: “(..) residência solarenga, sob o seu teto acachapado de arquitetura colonial, cupido travesso fez diabruras(…)”. Sim… fez mesmo… Segundo consta, nesse sobrado, mais tarde transformado em república estudantil onde moraram Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães, o futuro imperador do Brasil conheceu em 30 de agosto de 1822 aquela que dominaria seu coração e mente pelos próximos sete anos.

Chácara dos Ingleses, segundo concepção do pintor Pedro Alexandrino

Eis que, como tudo na vida, o amor acaba, e após ter morado na corte de 1823 até 1829 a ex-favorita é banida, por decreto, para abrir espaço à nova imperatriz do Brasil, Dona Amélia de Leuchtenberg, que ironicamente embarcou para o Brasil em agosto, exatos sete anos depois do começo do relacionamento entre Pedro I e Domitila de Castro. Com isso nossa Marquesa retorna a São Paulo, e aí vem o nosso segundo problema… Nuto Santana, Antonio Barreto do Amaral e outros afirmam que ela teria ido morar em uma chácara que adquiriu do casal João Antonio de Oliveira, por nove contos de réis. Essa chácara ficava próximo da Rua da Alegria (Av. Ipiranga), entre a Rua Triste (Av. Cásper Líbero) e a Rua do Bom Retiro (R. do Triunfo).

Segundo Alberto Rangel, ela foi morar na propriedade de Francisco Ignácio de Souza Queiroz. Esperamos um dia resolver essa dúvida.

Em 31 de maio de 1834, a Marquesa adquire o famoso imóvel da Rua do Carmo (atual Roberto Simonsen) conhecido durante anos como Palacete do Carmo, hoje chamado de Solar da Marquesa de Santos, onde funciona o Museu da Cidade de São Paulo. Ele foi comprado por onze contos de réis. Em 1880, vários anos após sua morte, a residência foi adquirida pela Cúria Metropolitana e serviu de palácio episcopal até a década de dez do século passado. Depois de diversos usos, foi encampada pela prefeitura.

A Marquesa, em seu exílio paulista, viveu durante vários anos com Rafael Tobias de Aguiar (1794-1857), líder da Revolução Liberal. Eles se casaram em Sorocaba em 1842, pouco antes dele fugir para o sul do país. devido ao fracasso da revolta. Tobias de Aguiar morou em um casarão entre a Rua Alegre (atual R. Tobias de Aguiar) e a Ladeira de Santa Efigênia (R. Santa Efigênia). Portanto, eis mais um local onde nossa Marquesa passou.

Palacete do Acu, também conhecido como Solar do Brigadeiro Tobias

No local funcionaram a Escola de Farmácia, a Pensão Suissa, o Conservatório Musical e uma seção da Faculdade de Medicina, até o prédio ser demolido, em 1925.

Por fim, mas não por último (ainda existem fazendas e outros locais a serem investigados), Domitila possuiu a Chácara da Figueira, que ela deveria conseguir avistar de seu Solar na Rua do Carmo (Atual Roberto Simonsen).

A chácara ficava do outro lado do Rio Tamanduateí e parte dela, após o desmembramento do terreno, foi adquirido pela Companhia de Gás, que ali instalou o Gasômetro. A Rua da Figueira e a Rua Maria Domitila são velhas lembranças da antiga chácara e sua proprietária.

Atualmente, a polêmica marquesa habita, desde 1867, um singelo túmulo de mármore branco, próximo da capela do Cemitério da Consolação, à qual destinou, em testamento, dinheiro para a compra das alfaias litúrgicas. Sempre pintado e florido, é guardado por um tristonho querubim apoiado em uma trombeta e exibe um medalhão com a foto de Domitila já em idade avançada. O tom curioso fica por conta de placas e bilhetes agradecendo graças alcançadas. Corre a lenda de que a ex-amante imperial, de onde quer que esteja, intercede por homens e mulheres em busca do amor.

Fontes utilizadas:
– Nuto Santana: São Paulo Histórico
– Afonso A. de Freitas: Tradições e Reminiscências Paulistanas
– Hernani Silva Bruno: História da Cidade de São Paulo.
– Alberto Rangel: Dom Pedro I e a Marquesa de Santos
– Antonio Barreto do Amaral: Dicionário de História de São Paulo
– Maria C. Naclério Homem: O Palacete Paulistano