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Posts Tagged ‘Cemitério da Consolação’

Venha conhecer o patrimônio paulista antes que ele acabe

O Turismo na História tem três passeios programados para o próximo final de semana:

Dia 14 de novembro, sábado:

– Manhã: HIGIENÓPOLIS – Personagens, arquitetura, tradição e modernidade.

– Tarde: Marquesa de Santos, a história não contada! Muito além de amante, um pouco da história de uma das mulheres mais controversas do século XIX.

Dia 15 de novembro, domingo:

– Manhã: Visita guiada ao Cemitério da Consolação, com o tema: A República, seus personagens e novas histórias a respeito do mais antigo cemitério paulista

Valor dos passeios: R$ 35,00 mais informações em www.turismonahistoria.com.br

O dia de finados: a marquesa de Santos é pop

Regina Cascão, do Colégio Brasileiro de Genealogia, todo ano, à época do dia de finados, envia para a GenealBr, uma lista de genealogia da qual participo, uma bonita mensagem sobre as três mortes do ser humano, que reproduzo em parte abaixo:

“No México existe a crença de que cada pessoa morre três vezes. A primeira é no momento em que suas funções vitais cessam. A segunda é quando o seu corpo é colocado na tumba. A terceira acontece em algum momento no futuro, no qual o nome do falecido é pronunciado pela última vez. Aí então a pessoa realmente morre.” (Para ver o texto origial clique)

Miniatura retratando a Marquesa de Santos (col. particular)

Há exatos 143 anos, em 3 de novembro de 1867, falecia no Palacete de Carmo, vizinho ao Pátio do Colégio, no centro de São Paulo, Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos. Se os mexicanos estiverem certos, a marquesa não terá com que se preocupar durante sua eternidade! Soube no fim de semana que Paula Lavigne irá produzir um filme sobre a ilustre paulistana, e hoje li que Rosi Young afirma que ela é quem vai transportar para a tela a história de Domitila. Faço votos para que alguém realmente faça, e que a película não chova no molhado sem acrescentar novidades sobre uma das principais figuras femininas do Primeiro Reinado.

Além desse futuro filme, a Geração Editorial relançou no ano passado o Marquesa de Santos, do Paulo Setubal, e sei, de fonte bastante fidedigna, que um novo livro sobre d. Pedro I e a Marquesa de Santos será lançado no ano que vem, tranzendo muitas novidades sobre os amores imperiais do primeiro governante do Brasil independente.

Espero que alguém, além de Maria Fernanda Cândido na belíssima palestra produzida pela Casa do Saber para a exposição sobre Domitila no ano passado, aborde as diversas facetas dessa mulher.

Pistoleira, alpinista social, canalha, ela já foi chamada de tudo um pouco, mas quem realmente foi Domitila? Uma mulher, como diversas outras, que se viu nas graças de alguém poderoso que a amou a ponto de elevá-la.

Em 1819, após ter sido esfaqueada em São Paulo pelo primeiro marido, alguns dizem por traição, outros porque ele era um mau-caráter que fazia ela e os filhos passarem necessidades, Domitila resolveu se separar.  Um escândalo para a época, mas não para os Toledo Ribas e nem para os Canto e Melo, pois a tia materna também era uma divorciada. A briga que se seguiu pela guarda dos filhos a levou a pedir intercessão de d. Pedro I, que estava em São Paulo em agosto de 1822. Apaixonaram-se e… bem, aí ele chamou-a para morar no Rio de Janeiro e manteve praticamente uma segunda família além da oficial, com Domitila ficando grávida praticamente junto com a imperatriz Leopoldina diversas vezes, tanto que o único filho homem que d. Pedro teve com a marquesa tinha diferença de dias com o futuro Pedro II. Vivos desse relacionamento só sobraram duas meninas, Isabel Maria, Duquesa de Goiás, e Maria Isabel, Condessa de Iguaçu por casamento (OK, eles não foram criativos). Isabel Maria foi mandada para ser educada em Paris, com cinco anos. Belinha, como Pedro I a chamava, era a sua filha preferida. Casou-se na nobreza alemã, onde deixou uma grande descendência. A outra filha, Maria Isabel, epilética como o pai, nasceu após o banimento da mãe da corte e foi criada por Domitila em São Paulo. Casou-se com um filho do Marquês de Barbacena, o mesmo que trouxe a bela e virgem princesa alemã Amélia de Leuchtenberg, de 17 aninhos, para ser nossa segunda imperatriz.

Detalhe do túmulo da Marquesa de Santos no Cemitério da Consolação, São Paulo

Milhares de pessoas que visitaram seus parentes ontem no cemitério da Consolação, em São Paulo, devem ter rezado na capela, que fica praticamente na frente do túmulo em que jazem os restos mortais de Domitila. Mas poucos sabem que é à marquesa que São Paulo deve a edificação dessa capela. No seu testamento, além de lembrar-se de dar alforria aos escravos e providenciar que os filhos cuidassem deles, de ajudar seus parentes e doar dinheiro para os pobres que não solicitavam esmolas, ela também deixou determinada a doação de dinheiro para a capela do novo cemitério. Como história é para os que têm memória, ou que gostam de determinado assunto, acho que vou entrar com uma reclamação no Ministério Público (está na moda) para que a Prefeitura seja obrigada a tirar aquela placa falando que Domitila foi a doadora das terras para constituir o cemitério da Consolação. Além de paulista não gostar de sua história, ainda a Prefeitura contribui com a situação contando de forma errada!

Será que a eleição de Dilma Rousseff como primeira presidente do Brasil fará com que os olhos dos brasileiros voltem-se para as suas figuras femininas do passado? É torcer!